Educação Especial, lugar do inédito!

Escrever sobre Educação Especial é complexo, principalmente se considerarmos as transformações pelas quais esta modalidade de ensino vem passando para adaptar-se à perspectiva de educação inclusiva.
Até exatos vinte anos atrás, o lugar da Educação Especial era definido e definitivo. Caracterizava uma situação de ensino segregada das práticas educacionais das escolas regulares, afinal, acreditava-se que as pessoas com deficiência necessitavam de ambientes restritivos e totalmente especializados, para atendimento escolar e clinico.
Na perspectiva inclusiva, a Educação Especial abandona a abordagem segregacionista e atreve-se a reinventar seu papel (coisa que em Educação, convenhamos, tem ares de ineditismo), para a garantia de que alunos com necessidades educacionais especiais caracterizadas por deficiência sejam atendidos em qualquer nível e modalidade de ensino, propagando seu direito de ser recebido e atendido através da promoção de estratégias e recursos necessários para a garantia de participação em todas as atividades e rotinas escolares.
Numa perspectiva desse porte, não cabe à escola e profissionais que nela atuam receber o aluno garantido seu acesso apenas. É preciso muito mais, é preciso oferecer estruturas, estratégias, suportes e recursos adequados.
E, nesse novo cenário, a Educação Especial é definida, não mais como modalidade de ensino substitutiva ao ensino regular, mas sim como uma modalidade transversal de ensino que perpassa todos os níveis escolares e que se dá na própria escola. Assume-se, portanto, como um conjunto de recursos educacionais e estratégias de apoio e coloca-se à disposição de todos os alunos, rompendo os paradigmas escolares convencionais e buscando diferentes alternativas de atendimento às suas necessidades.
Está à disposição de todos os alunos, pois, apesar de claramente definido o aluno público alvo de sua atenção, atuação e competência, certamente, ao introduzir no ambiente escolar a discussão pela possibilidade de adequações curriculares, metodológicos, recursos educativos e formas de organização de tempo e espaço diferenciados e específicos para o acesso ao conhecimento pelos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento, altas habilidades e ou superdotação, corrompe os padrões homogeneizadores de ensino e quebra barreiras, beneficiando todas as diferenças individuais.

Ensina que para aconteça acesso ao conhecimento para todos e de cada um dos alunos, é preciso pensar a educação de forma individual e colaborativa.
Tenho uma longa trajetória em Educação Especial, talvez antes mesmo da formação acadêmica, e nesse percurso, aprendi que não podemos minimizar as questões que a deficiência traz para a vida de cada pessoa, porém, não podemos também colocá-las ou considerá-las – como há forte tendência por alguns – de forma tão complexa e inacessível, a ponto de não acreditarmos que as pessoas com deficiência podem assumir seu papel e lugar social em qualquer contexto de suas vidas.
Nesse sentido, entendo hoje, a Educação Especial é verdadeiramente especial… Numa perspectiva inclusiva, deve assumir-se promotora de quebras de barreiras físicas, atitudinais, metodológicas e conceituais. Tarefa nada simples, convenhamos, pois a motivação para manter as coisas estáveis e inabaladas no contexto educacional parece ser invariavelmente, muito mais forte.
Recentemente ouvi de uma estudiosa que admiro muito, que a educação especial deve ser o lugar do inédito, ou seja, de crença de que tudo pode ser e acontecer de forma diferente do que estamos habituados a realizar em educação.
O caminho é considerar cada indivíduo de forma particular e procurar desvendar suas inúmeras janelas e restritas fronteiras, para que possamos abrir-lhes possibilidades. Simples e complexo ao mesmo tempo, não? Porém, possível para todos aqueles que estão dispostos a romper com as próprias barreiras e acreditar que sempre existe um caminho não percorrido, uma estratégia ainda não utilizada, uma forma de interagir nunca arriscada e que não há limites para a aprendizagem, criatividade e capacidade humana.
Nesse sentido, também costumo refletir sobre o fato de que não são apenas as pessoas com deficiência apresentam algumas limitações, mas principalmente cada um de nós que escolhemos a educação como propósito profissional e que ainda não percebemos formas eficientes e eficazes para ensinar a todos, dedicando-se ao ensino de cada um.
E, em Educação Especial, essa é uma prerrogativa prioritária e inexorável.

Termino por aqui, com pedido de licença à Hannah Arendt – filósofa e cientista política – para citar um trecho de “Entre o passado e futuro” (1992) – e invocando a reflexão:

“A educação é o ponto em que decidimos se amamos o mundo o bastante, para assumir a responsabilidade por ele e, com tal gesto, salvá-lo da ruína inevitável, não fosse a renovação e a vinda dos pequenos e dos jovens.
A educação é, também, onde decidimos se amamos nossas crianças o bastante, para não expulsá-las de nosso mundo e abandoná-las a seus próprios recursos, tampouco arrancar de suas mãos a oportunidade de empreender algo novo e imprevisto para nós, preparando-as, em vez disso com antecedência, para a tarefa de renovar um mundo comum.”

Obrigada, equipe Matherna, pela oportunidade!

eliete

 

 

 

 

Eliete Rodrigues
Supervisora Educacional
Pedagoga com habilitação em Educação Especial – Especialização em Deficiência Auditiva – Especialização pelo Programa de Formação de Professores Alfabetizadores – Especialização em Gestão do trabalho pedagógico – Cursando: Especialização em Gestão de políticas públicas