Regras e Limites

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Era o primeiro dia de aula.

Dia de adaptação tanto para os alunos como para mim.

Nem mesmo os meus anos de prática em sala de aula me isentaram da ansiedade e preocupação daquele momento.

Logo de cara, recebi a orientação de que Marcelo era apaixonado, fissurado em chaves, celulares e eletrônicos, e que eu não poderia deixar nada, absolutamente nada em cima da mesa, pois pegaria, e se caso isso viesse acontecer, seria um trabalho árduo para tirar o meu pertence de “seus cuidados”.

E detalhe, além disto, Marcelo só aceitava fazer suas lições no computador.

O sino badalou (na escola arrumaram um sino de cobre pequenino, bonito, e que soa muito bem pelo corredor e pátio da escola), e todos começaram a entrar na sala, felizes pela volta às aulas, porém, desconfiados.

Bastante extrovertido, comunicativo, falante e sociável ao extremo, Marcelo parava todos que encontrava pelo caminho para receber a boas vindas e cumprimentá-los.Marcelo foi o último a entrar na sala.

E adivinhe qual foi sua primeira pergunta ao me ver?

“- Prrrrofessora posso ficar com a chave da sala?”

(Você pode ter achado estranho ter colocado tantos “erres” na palavra professora, mas foi proposital, Marcelo reforçava todos os “erres” em sua fala)

Comecei a rir e descontraída, pedi para que entrasse para eu poder me apresentar e conhece-lo melhor.

Marcelo entrou e já escolheu seu lugar cativo na sala: sentou-se em frente a um velho computador e lá ficou.

Comecei a minha apresentação e fiz uma brincadeira com todos e automaticamente tive que tirá-lo do viciante lugar em frente ao computador.

Mas Marcelo não hesitou, ao se levantar para participar da brincadeira, apontando para o computador, logo disse:

“- Prrrrofessora eu só faço lição aqui viu!!!!”

Eu disse:

“- Tudo bem… depois você retornará ao seu lugar, está bem?”

Ufa! Aquele dia tudo ocorreu bem. (Graças a Deus!)

Durante a semana, logo após alguns dias de apreciação do velho lugar ao lado do computador, corri o risco de mudar e estabelecer um novo lugar na sala para Marcelo, afinal tinha baixa visão e no lugar que estava, ficava longe da lousa e até mesmo da professora. E foi esse argumento que usei para convencê-lo de mudar de lugar.

Muito falante, quis de fato que eu apresentasse um bom, um excelente argumento para que ele saísse do “seu lugar” (assim denominado por ele há anos…).

Tudo certo! Apesar de ainda (todos os dias) me questionar sobre seu retorno ao velho lugar, ele permaneceu lá até o final do ano… Pode acreditar!

E sabe por quê?

O computador estava cheio de vírus, ele o utilizava para ficar mexendo e digitando as letras do alfabeto ou seu nome, apenas isso… O computador era apenas um passatempo em sala de aula, assim, um dia, chamei-o perto e disse:

“- Marcelo, eu sei que você gosta muito de mexer no computador, porém, como ele está cheio de vírus, ele está estragando suas atividades… que tal, nas aulas de informática, você ser meu ajudante?”

Nossa… Foi a melhor coisa que disse para ele! Marcelo ficou muito feliz, animado e estimulado para “ajudar’ seus amigos na utilização do computador.

Além de que, nas aulas de matemática, eu dava uma calculadora para ele ajudar seus amigos nos cálculos… Enfim dava funcionalidade para ele em sala de aula, para ele se sentir importante, ter uma ocupação e não ficar com a ideia fixa naquilo que estava tão acostumado em ter e em fazer.

Quanto às chaves e eletrônicos que também tanto amava, tiveram um momento especial na sua rotina diária. Foi estabelecido junto com ele que, se ele se comportasse e realizasse suas atividades em êxito, ficaria com a chave da sala ao término da aula, e toda sexta feira ele poderia trazer seu radinho para ouvir música com seus amigos de sala.

E assim foi combinado e cumprido.

Claro que tiveram alguns dias, muito dias pra falar a verdade, que ele relutava para ter aquilo que queria, como se nada do que nós havíamos combinados juntos, teria sido relevante para ele, mas com muita conversa, ele se acalmava.

Foi fácil?

Não, não foi. Afinal tirar algo ou um vício de uma pessoa que vem se perdurando há anos, é bem complicado. Várias foram as vezes que mexia nos celulares alheios na hora do intervalo, vários foram os dias que pegava as chaves da outras salas escondido sem pedir… Mas tudo isso era conversado na hora, e já se estabelecia um combinado, ou seja, Mexeu? Pegou sem pedir? Ficará sem o radinho na próxima sexta!!! Era assim…

Muita coisa precisa ainda ser feita, muitas regras ainda precisam ser estabelecidas… Mas pelo menos, ao longo deste ano letivo, pude apresentar ao Marcelo, o sentido da regra e limite dentro da sala de aula.

Mas confesso que, não podemos fazer e estabelecer um combinado somente com o aluno. Este acordo deve ser algo em comum, extra sala de aula, deve ser compartilhado em todo o contexto escolar, se possível até, em casa, com a família, mais aí é querer demais não acham? (rsrsr)

Enfim, a equipe escolar deve estar engajada em um mesmo propósito… Pois só assim, unidos pelas mesmas regras e limites podemos obter um sucesso maior…

É isso!

Forte abraço para você!

Compartilhe comigo sua história também!

Joana

Equipe Matherna

Sejam Bem Vindos!

nós

Há alguns meses entre conversas e desabafos em uma hora de almoço qualquer, começamos a falar sobre o que de fato estávamos contribuindo para a educação de uma forma geral. Muitas coisas passaram em nossa cabeça, e nessa angústia de fazer algo melhor, surgiu a ideia de colocar nossas metas, até então, somente sonhos, em prática.

Ideias borbulhavam em nossa mente. Elas surgiam em todo momento, andando pela rua, lavando louça, tomando banho, almoçando…

 Os nossos primeiros rascunhos baseavam-se somente em estratégias e práticas educativas de sala de aula, mas ainda isso não nos completava. Faltava algo mais.

Analisamos as nossas experiências e práticas.  Falamos e pontuamos de tudo um pouco. E foi aí que a maior ideia surgiu.

Sentimos que ao longo da nossa trajetória em escolas regulares, o professor de sala precisava de algo mais. Ele merecia ser acolhido, aconchegado e principalmente orientado da melhor forma possível em suas dúvidas e angustias perante a inclusão.

(Pois é fácil colocar um aluno lá na sala só por colocar……e o professor como fica nessa história?)

Aprendemos muito ao longo deste processo de criação e queremos de alguma forma compartilhar com você!

Queremos aprender com suas histórias e experiências, e a partir delas, contribuir e dar dicas, de forma clara e objetiva.

Ao longo deste ano, iremos realizar novas pesquisas, enquetes e seus resultados. Publicaremos textos e artigos nossos, de outros autores e amigos convidados. Abordaremos as Leis vigentes e faremos indicações literárias importantes para que você, possa fazer parte deste mundo tão apaixonante e envolvente que é a Educação Especial.

Compartilhe sua prática educacional conosco!

Conte-nos sua história. Juntos poderemos dar o primeiro de muitos passos rumo a um mundo melhor!

Forte abraço e sejam bem vindos!

Equipe Matherna